segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O ÚLTIMO PONTO

Ela chega sem avisar, sem nos preparar. Chega sem ser convidada e leva. Não satisfeita, leva a pessoa mais especial. Aquela que te explica o sentido da vida, que te mostrou um passarinho fazendo um ninho, que explicou como se planta e se cuida de flores. Aquela pessoa que quando tem uma orquídea, a dela é a mais florida e não por acaso, as plantas, assim como os animais são parecidas com os donos. O que minha avó fazia com as orquídeas dela que sempre foram mais bonitas?

Quando acontece você não aceita e pensa: quem é essa tal de morte? Ninguém chamou ela aqui! Ela não vai levar, eu não deixei! O pensamento é tão simples quanto a vida, mas estamos falando de algo mais complexo. Ver aquela pessoa ali, sem vida, faz você se transformar em alguém autoritário: põe a alma dela aqui de volta agora!

Isso vai, uma, duas, três semanas. Até que você consegue mostrar seus dentes amarelos. Um sorriso tão inevitável quanto o choro. A diferença é que ele chega e não fica, mas as lágrimas... essas quando não estão no seu rosto, estão no seu coração. Ah sim, o coração.

Ele ficou muito pequeno pro meu corpo. Meus músculos se contraiam e na hora, o choro, aquele que vem fluído em filmes dramáticos, simplesmente some. Quando aparece, dói. É difícil tirá-lo lá de dentro. Você não quer aceitar, você está falando que não, então, porque colocá-lo pra fora? Você “manda” aqui.

Depois você se esquece. Você não existe mais e pra que se esforçar? O dia que eu mandei a morte ir embora, ela ficou... ela faz o que quer. Então, porque estamos aqui? Porque as pessoas compram carros de luxo? Porque apenas um tênis não é o suficiente, mas sim um bem caro? Você é tomado por porquês? E deseja, bem lá no fundo, ser uma criança pura. Aquela que não vê problemas em nada, e a morte é simples: ir para o céu.

Você se esquece tanto que começa aparecer doenças. A tosse é quase um grito de desespero, as manchas causadas por fungos no corpo são pra mostrar que este também vai apodrecer. Os músculos que ficaram pequenos agora estão doloridos. A pele está desidratada, você também a deixou de lado. As unhas que você fazia tanta questão de estarem pintadas, hoje só se lembra no momento em que elas machucarem seus braços ao coçá-los.

Depois disso, vem as crenças. São muitas e cada um com a sua. Todas são hipóteses.

Enquanto minha avó esteve aqui, foi a melhor. E eu viveria tudo de novo, mesmo que tivesse que perdê-la novamente, só pra vê-la. Mesmo que tivesse que sofrer, só por um abraço. A saudade toma o corpo, a mente. A saudade, a saudade... As lembranças, as fotos, as roupas e o cheiro. É difícil levá-la para o passado. Ela gostava... não, ela ainda gosta. E eu, continuo a amando, e muito.  

O texto não veio para explicar o que é a morte e assim como ela, ele acaba com um simples ponto final. 

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